Cirurgia Robótica do Aparelho Digestivo.

Costumo falar que a cirurgia laparoscópica alavancou a especialidade da cirurgia do aparelho digestivo. A laparoscopia é uma forma do cirurgião abordar os órgãos intra-abdominais sem grandes incisões. Nesse tipo de cirurgia, realizada através de monitor, câmera e cânulas contendo instrumentos de trabalho, o cirurgião atua em uma visão bidimensional, ou seja 2D. Deve-se ter a noção de profundidade muito bem treinada, já que as cânulas se apoiam como uma alavanca na própria parede muscular do paciente, com uma dimensão de movimento praticamente bidimensional ou seja, na vertical e na horizontal. A limitação é que não se consegue, através da laparoscopia, transmitir os movimentos exatos que o punho do cirurgião faria.

A cirurgia robótica tem a capacidade de trazer uma sofisticação e fineza de movimentos dos instrumentos de maneira melhor ainda que a própria mão do cirurgião. Permite movimentos como o de rotação, por exemplo. A robótica consiste nas mesmas cânulas usadas na cirurgia laparoscópica, só que controladas pelo braço de um robô. O cirurgião manipula um console – local onde se realiza o procedimento de fato, com o cirurgião sentado, braços apoiados e olhos e um visor – guiando a mão do robô.

A visão reproduzida ao cirurgião é em 3D, com uma precisão muito melhor que a de um monitor em HD, por exemplo. Através dessa visão tridimensional e da manipulação do console, é possível transmitir para a extremidade da pinça movimentos tão sofisticados quanto o seu punho é capaz de fazer, e até melhor, pois o robô tem a capacidade de filtrar os tremores naturais que toda pessoa tem. Quando o movimento de tremor é brusco, sendo que esse movimento não era o esperado, o robô não o executa. Os movimentos são sempre muito suaves e sutis, promovendo às vezes, na ponta da pinça, uma rotação maior que o próprio punho seria capaz de realizar.

Benefícios:

Estudos indicam que 87% dos médicos que realizam cirurgias laparoscópicas, sofrem com alguma forma de lesão ortopédica, proveniente dos hábitos, postura e movimentos realizados durante a cirurgia, como manter o ombro ou o cotovelo levantados por um período prolongado ou até mesmo prejudicando a cervical, que acaba ficando mal apoiada. Desta forma, a técnica robótica proporciona maior conforto e ergonomia para toda a equipe.

A cirurgia robótica permite a realização de procedimentos de maior complexidade com menor trauma tecidual, com recuperação mais rápida do paciente e condições de movimentos onde a laparoscopia teria dificuldades. Na cirurgia de câncer de próstata, por exemplo, vários estudos demonstram os benefícios, como a alta precoce, menor risco de impotência e de incontinência quando comparada a procedimentos convencionais.

Qualquer cirurgia da cavidade abdominal, inclusive as urológicas como a da próstata e o do rim, podem ser realizadas por robótica, mas não são todos os casos que trazem um real benefício para o paciente. O que se observa, especialmente nas cirurgias oncológicas, é que situações que seriam extremamente difíceis para o laparoscopista, fica muito mais fácil de ser executado pelo robô. Na cirurgia de câncer do reto, por exemplo, a vantagem operatória da robótica tem sido demonstrada, inclusive com alguns trabalhos mostrando melhores chances de sobrevida, graças à maior radicalidade da operação.

Implantação da tecnologia

Os cases de sucesso em cirurgia robótica em hospitais de todo o mundo tiveram muito a ver com a forma de sua implantação. Isso porque a formação do cirurgião para esta tecnologia depende de treinamento específico, que é realizado em etapas, sendo elas:

  • Teoria (curso online);
  • Prática através de simulador;
  • Certificação – concedida pelo próprio fabricante, após treinamento em seus centros, no exterior;
  • Após certificado, o cirurgião deve realizar as suas 4 primeiras cirurgias acompanhados por um preceptor (modelo Einstein)

Como o investimento para a aquisição do robô é bem alto, poucos hospitais no Brasil possuem acesso a essa tecnologia. O Hospital Albert Einstein possui 2 robôs em atividade, é o pioneiro e líder no número de pacientes operados por via robótica bem como na qualidade dos desfechos e índice de complicações. O número de casos operados é superior à soma de todas as cirurgias realizadas pelos outros robôs no Brasil.

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